No ramo da tradução, fala-se muito sobre feedbacks. E o motivo não poderia ser mais óbvio, afinal, quem não quer saber se está fazendo um bom trabalho? No entanto, ao longo do meu tempo de carreira, percebi que a pergunta que dá título ao post de hoje é mais importante do que receber o feedback em si. Como veremos na postagem desta primeira sexta-feira de abril, se tem algo mais importante do que receber um parecer sobre o seu trabalho, é saber lidar com ele e o que se pode aprender para se tornar um tradutor cada vez melhor.

Todas as profissões têm uma curva de aprendizado, e na tradução não é diferente. Trazendo essa perspectiva pro campo da dublagem, ao mixar seu vigésimo filme, o mixador tem a tendência de fazê-lo infinitamente melhor do que quando mixou o seu primeiro. Da mesma forma, a primeira dublagem de um dublador tende a ser inferior a sua trigésima, por exemplo. Por fim, chegamos à figura do tradutor que, obviamente, não seria diferente. Os macetes, as dicas, as estratégias, enfim, tudo isso vem com a experiência. Só que, como todos nós sabemos, experiência é algo que vem com o tempo, e ninguém se torna especialista em sua área da noite pro dia.

Retomando o parágrafo inicial deste post, feedback é um assunto recorrente no universo tradutório. Realmente, levando essa questão para o ramo da dublagem, são poucos os trabalhos que voltam para os tradutores com feedbacks detalhados. É exatamente por isso que o contato com os diretores de dublagem é extremamente importante, como já disse em um dos posts aqui do blog. E por quê? Porque como eles lidam diretamente com as traduções em estúdio, eles estão aptos a apontam os pontos fortes e fracos delas.

Entretanto, de modo geral, quando chega um feedback mais completo e por escrito, ele tende a contemplar muito mais os erros ou os pontos que poderiam ser melhores do que os acertos. Mas até aí, é o que se costuma ver nas outras áreas também, né? Vamos agora à vaca fria e digamos que acabou de chegar um feedback do estúdio de dublagem sobre uma tradução recente sua. O que você faz?

Sinceramente, eu acredito que, antes de tudo, é preciso ter humildade. Nesse momento, o seu ego precisa ser deixado de lado, e é necessário analisar as indicações assinaladas pelo cliente. Há coisas que são erros mesmo que passam despercebidos, e nessas horas você até dá um tapa na testa pensando: “putz, como fui errar uma besteira dessas?” Eu já errei, assim como todos os meus colegas já erraram, afinal, errar é humano. Porém, o feedback serve justamente pra isso: o que você errou, errou uma vez e espera-se que aquele mesmo erro não seja cometido de novo.

Outra coisa que tende a aparecer em alguns feedbacks são as mudanças realizadas em estúdio, mas que não são necessariamente erros, e sim preferências, então você não precisa ficar se achando o pior tradutor do mundo por isso. O lado bom é que, muitas vezes, algumas mudanças acabam sendo pra melhor mesmo, e é até interessante que você tome nota de soluções inteligentes pra poder reaproveitar no futuro. 😉

Também já houve feedbacks em que tive a abertura do cliente para contra argumentar alguns pontos e explicar porque traduzi tal coisa de forma X e não de forma Y. Enfim, existem feedbacks de diferentes naturezas, alguns com uma abertura maior para diálogo, e outros com uma abertura menor. No entanto, para cada tipo, sempre pode-se aprender algo novo.

Por fim, chegamos ao ponto-chave. Neste momento, eu faço pra você a pergunta que dá título ao post: “Você sabe receber feedbacks?” A tendência natural é que você responda que sim, claro. Como é possível não saber receber o retorno do seu cliente? Pois eu garanto que o ímpeto de muitos tradutores é o de deixar o ego predominar e, simplesmente, não internalizar o feedback.

Obviamente, não estou dizendo que é para abaixar a cabeça sempre, afinal, cada um tem sua própria autocrítica, mas é preciso saber ouvir, baixar a guarda e se abrir para o que o seu cliente está tentando dizer. Antes de contra-atacar, reflita se realmente seu cliente não está apontando aspectos que você julga estarem bons, mas que, na verdade, ainda são passíveis de aperfeiçoamento. Garanto que, se você estiver disposto a se abrir, verá que sempre pode evoluir em algum quesito.

Ao longo do tempo, já ouvi dubladores e diretores de dublagem conhecidos dizendo que dão retorno para os tradutores, mas parece que eles não escutam e não interiorizam as dicas que são passadas. Sendo assim, do que adianta? Do que adianta receber feedbacks excelentes e completos sobre o seu trabalho, se você não for capaz de interiorizá-los?

Com o passar dos anos, já recebi retornos ótimos, e que me ajudaram muito a evoluir como profissional, inclusive aqueles no melhor estilo “puxão de orelha”, mas que foram extremamente necessários. Só que de nada adiantaria se eu não os internalizasse e os aplicasse nos meus trabalhos futuros, e é essa a mensagem que eu queria deixar no post de hoje. Como já disse antes, existe uma curva constante de aprendizado, e o ato de errar faz parte do nosso aprimoramento profissional, não tem jeito. Errar é humano, mas, como diz o sábio ditado, insistir no erro é burrice.

E você? Já teve alguma experiência relacionada à feedbacks e que gostaria de compartilhar? Não se esqueça de deixar o seu comentário de sempre e um grande abraço. Espero você na próxima sexta-feira! 😉

Paulo Noriega

Sou autor do blog Traduzindo a Dublagem e tradutor atuante nas áreas de dublagem e editorial. Amo poder compartilhar meu conhecimento a respeito do universo da dublagem e da tradução para dublagem. Seja bem-vindo a este fascinante universo!

4 Comentários

Ligia Ribeiro

11 de abril de 2017

Oi, Paulo. Adoro seus artigos, mesmo que os leia com atraso, às vezes. Esse tema veio muito a calhar. Independente de um comentário, a meu ver infeliz, no FB, recebi feedback de diretores de dublagem e de diretores de estúdio e todos estão gostando do meu trabalho, o que é muito bom. Mas claro que sempre há coisas para aprender e procuro prestar atenção ao que me falam e, com isso, me aprimorar cada vez mais. O tradutor, seja em qual área ele atua, não pode se vangloriar de elogios e achar que o aprendizado não é mais necessário. É muito importante dar continuidade a esse processo e não parar no tempo. Essa troca entre diretores e tradutores de dublagem só enriquece e otimiza mais os projetos. Parabéns, amigo.

    Paulo Noriega

    11 de abril de 2017

    Fico feliz por ter gostado, Ligia. Seu apoio é muito importante pra mim. Obrigado por tudo e grande beijo!

Mário Menezes

11 de abril de 2017

Muito bom. Como sempre.

    Paulo Noriega

    11 de abril de 2017

    Obrigado, Mário! Que bom que gostou, fico muito feliz! =)

Deixar comentário

Deixe um comentário