Ser um bom tradutor, independentemente da modalidade tradutória, é algo que leva muitos e muitos anos. Entretanto, mesmo com o ensino da tradução já estruturado em nosso país nas universidades e em cursos livres renomados, ainda ocorre uma banalização desse ofício e, decorrentemente, uma desvalorização constante de toda uma classe. Não é um fenômeno exclusivo do campo da tradução, mas também de outros campos do saber, infelizmente.

Não acredito que exista uma fórmula para o aperfeiçoamento tradutório, mas, ao menos para mim, a estrada que leva até ele passa por muita leitura de livros e artigos variados e por participações em congressos e em grupos de discussão de colegas em fóruns ou nas redes sociais.

Ao longo dos anos, aspirantes a tradutor e até alguns colegas que já estão no mercado me perguntam como lapidar suas habilidades tradutórias e, no post de hoje, compartilharei duas grandes dicas que levo comigo nesse meu tempo de carreira. Futuramente posso fazer novos posts com outras dicas, algumas até mesmo mais focadas no campo da tradução para dublagem, então caso seja do seu interesse, não se esqueça de deixar um comentário.

A vantagem das dicas de hoje é que elas também servem para os demais campos tradutórios e acho extremamente importante começar por elas antes de partir para outras dicas mais específicas. Pronto? Vamos lá! 😉

1) Não trate a tradução como bico

A tradução existe desde tempos imemoriáveis, isso é fato. São séculos e séculos de debate sobre o que implica ser tradutor e o traduzir. Hoje temos diversas modalidades tradutórias, cada uma com suas particularidades, e o ensino da tradução já se encontra mais estruturado, basta olhar quantos bacharelados, pós-graduações e cursos livres nós temos não só no Brasil, como em diversos países espalhados pelo mundo.

Mesmo assim, ainda ocorre algo no universo da tradução que, infelizmente, se estende a outras áreas: a banalização do ofício. Justamente por muitos acharem que podem traduzir apenas porque “sabem” inglês, espanhol, francês, italiano ou o idioma que for, é que vemos tantos desastres tradutórios seja na dublagem, na legendagem, na literatura e até mesmo na tradução técnica.

Vamos trazer essa questão para o nosso foco que é o mundo da dublagem. Nele, qualquer projeto começa com a tradução, a base de tudo. Tal qual na vida real, uma base fraca não sustenta uma casa, muito menos um prédio ou uma ponte, não é verdade? E é exatamente por isso que essa base precisa ser muito bem cuidada. Muitos ainda enxergam a tradução em geral como um bico, e a tradução para dublagem não é diferente.

Pontes sólidas exigem bases sólidas

Muitos dizem que traduzem no seu tempo livre, por exemplo, o que automaticamente já mostra que essa atividade não é uma prioridade em suas vidas. Logo, justamente por não ser prioridade e apenas algo que é encaixado quando dá, como é possível se dedicar e dar tudo de si? Com isso, quero dizer que, enquanto alguém que se diga tradutor não encarar o seu ofício com seriedade e estudo e, acima de tudo, como prioridade, não vai chegar à excelência.

Quem ama e se dedica, dá tudo de si e não se cansa de aprender novas formas de se tornar um profissional melhor e refinar suas técnicas. Várias coisas que você ama e consome, seja uma boa dublagem ou uma boa tradução literária, por exemplo, foram feitas por profissionais que respiram e vivem seus ofícios.

Trazendo esse pensamento para a dublagem, pense nas produções dubladas mais memoráveis que você já assistiu. Pense naquelas falas que você sabe de cor e salteado. Pensou? Pois é. Boas traduções marcam e ficam no imaginário de gerações, enquanto aquelas que são meia boca são esquecíveis, e isso quando não viram motivo de piada nas redes sociais.

Exemplo de dublagem da melhor qualidade: dubladores excelentes e uma excelente tradução

2) Conheça a sua língua A FUNDO

Dizer que para traduzir bem é necessário dominar a sua língua nativa pode parecer um pouco óbvio, mas gostaria de bater um pouco mais nessa tecla. No que diz respeito à dublagem, saber o funcionamento da nossa oralidade é crucial para conceber falas críveis e que não causem estranheza no telespectador. No entanto, certas produções exigem um conhecimento minucioso dos aspectos micro da nossa língua. E ao que estou me referindo, exatamente?

Sabe aquelas aulas que você deve ter tido na escola ou na faculdade sobre radicais, prefixos, sufixos, etc, e que na época talvez você tenha achado um porre? Pois bem, para se dominar uma língua em todos os seus aspectos, ter esse conhecimento é extremamente importante. Portanto não se esqueça de dar atenção aos radicais, aos nossos processos de formação de palavras e também aos prefixos e sufixos, principalmente os gregos e latinos no caso da língua portuguesa.

Já imaginou se você precisar criar uma nova profissão? Ou uma nova fruta? Ou que tal uma criatura fantástica? Como você faria esse processo? São justamente esses elementos que acabei de citar que serão seus maiores aliados quando esses pepinos tradutórios caírem na sua mão.

Não se esqueça de estudar os aspectos microscópicos da língua. Nunca se sabe quando precisará deles!

As ferramentas linguísticas estão à nossa disposição, mas cabe a nós saber e lembrar que elas estão aí para nos ajudar. Por isso, além de dar atenção aos aspectos macro da tradução e da língua, nunca se esqueça dos aspectos micro. Afinal, nunca se sabe quando um projeto exigirá esses conhecimentos.

Espero que você tenha gostado das dicas do post de hoje e, caso queira debatê-las nos comentários, será um prazer. Um grande abraço e até o próximo post! 😉

Paulo Noriega

Sou autor do blog Traduzindo a Dublagem e tradutor atuante nas áreas de dublagem e editorial. Amo poder compartilhar meu conhecimento a respeito do universo da dublagem e da tradução para dublagem. Seja bem-vindo a este fascinante universo!

6 Comentários

José Luiz Corrêa da Silva

9 de agosto de 2017

Como sempre muito interessante e pertinente. Manter o foco no estudo do idioma para o qual irá traduzir com mais frequência, e que é apenas um dos investimentos para o aprimoramento das técnicas tradutóras, e prioridade para o desempenho da profissão de tradutor são sempre boas dicas que tenho passado para os alunos.
Mas há algo que mais me intriga, ou melhor, que me intriga mais: a tendência de ser literal na técnica de tradução em nome de uma pretensa fidelidade ao autor e ao texto original. Se pudermos debater um pouco sobre isso, acho que seria interessante para enriquecer minhas aulas e as dicas que transmito aos alunos.
Parabéns pelo seu trabalho.

    Paulo Noriega

    10 de agosto de 2017

    José, obrigado pelas suas palavras e pelo apoio. Obrigado mesmo! Muito obrigado também pela sugestão de tema, está anotada. Forte abraço. =]

Guga Almeida

25 de agosto de 2017

Esta é, realmente, uma ótima sugestão de tema para um post futuro, aguardo ansioso pelo post onde trará novas dicas, principalmente, aquelas relacionadas ao campo da tradução para dublagem. forte abraço.

    Paulo Noriega

    27 de agosto de 2017

    Pode aguardar, Guga! =]

Danielle Furtado

4 de setembro de 2017

Adorei o post! Obrigada por compartilhar essas dicas com base na sua vivência e em todo o seu saber sobre a Tradução para Dublagem. Iniciei um curso de formação nessa área recentemente e espero ter me encontrado agora. É, sem dúvida, fascinante! Continue com os posts e os debates, eles só têm a nos enriquecer. =) Aqui vai uma sugestão de tópico: para quem está querendo entrar no mercado da Tradução para Dublagem e ainda está meio perdido em como agir, quais seriam os seus DOs e DON’Ts? Quais foram os seus primeiros passos? Obrigada e até breve!

    Paulo Noriega

    4 de setembro de 2017

    Oi, Danielle! Muito obrigado pelos elogios e por gostar do conteúdo do blog, viu? Sugestão anotada, posso fazer um post mais dedicado a isso, mas fique ligada na seção dos posts dedicados à tradução aqui no blog, pois já houve alguns em que fui falando mais sobre essas questões de atitude, digamos assim.

    É só dar uma olhada nos posts antigos. Grande abraço e continue por aqui! 😉

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