Eu, Paulo, vivo como freelancer desde 2012 e aprendi muitas coisas ao longo desse tempo que gostaria de compartilhar com você que pensa em adotar esse estilo de vida, pois existem fatores que devem ser levados em consideração antes de um tradutor tomar essa decisão. Afinal, viver 100% da sua produtividade e ir atrás de clientes não é nada fácil, e esse post não tem a menor pretensão de ser uma cartilha definitiva de como levar uma vida perfeita como autônomo, porque eu poderia escrever um livro inteiro a respeito disso. A ideia aqui é passar um pouquinho das principais coisas que aprendi ao longo da minha carreira e dar alguns conselhos para você conseguir levar essa vida da melhor forma possível. 😉

Muitos acreditam que trabalhar de casa como freelancer é a melhor coisa do universo, mas seria mentira dizer que é sempre um mar de rosas. Sem sombra de dúvida, a liberdade que se tem é infinitamente maior, mas ao mesmo tempo, a responsabilidade que se tem também é. Atuar como tradutor freelancer implica em depender única e exclusivamente de você. Ser autônomo é um estilo de vida e para conseguir trabalhar bem, é necessário discutir algumas questões importantes, e são algumas delas que vamos discutir no post de hoje. 😉 Agora sem mais delongas, vamos a lista:

1 – Tenha disciplina

Disciplina não é apenas vital para um tradutor autônomo. Para mim, vai muito além. Na verdade, disciplina é a base de qualquer profissional, seja ele freelancer ou não, mas no caso do tradutor, é preciso entender que todo o crescimento da sua carreira será ditado por você e por mais ninguém. O número de clientes, o fluxo de trabalho, administrar as contas da casa, época de férias, trabalhar ou não nos finais de semana, tudo isso estará nas suas mãos. Para conseguir administrar tantas coisas, disciplina não é apenas fundamental. É a base de tudo.

2 – Estabeleça prioridades e metas diárias

Eu uso agenda desde os tempos de escola, então dificilmente me perco nas minhas obrigações. A cada dia, é preciso ter a clareza do que será feito, ou seja, saber bem quais são as tarefas ou trabalhos mais urgentes aos quais você precisa se dedicar. Por exemplo, se você tem que entregar um filme na quarta-feira, é importante que estabeleça suas metas diárias para entregá-lo no prazo estabelecido. Faça uma lista das suas tarefas diárias, veja quais vão exigir mais tempo e as priorize para chegar ao final do dia com a cabeça despreocupada e com o gostinho de dever cumprido.

3 – Saiba fazer pausas ao longo do dia e estabeleça períodos de foco extremo

Saber quando parar é importantíssimo, e para isso, é sempre bom fazer pausas ao longo do dia. Pessoalmente, aconselho pausas de no máximo 15 minutos. É tempo mais do que suficiente para ir ao banheiro, beber um bom copo d’ água, andar um pouco pela casa e até dar aquela olhadinha rápida no facebook antes de voltar ao trabalho. Somado a isso, além dos períodos de pausa, venho testando algo que vem dando muito certo para mim: são os períodos de foco extremo. Com isso, quero dizer que eu foco completamente em uma atividade durante uma hora ou duas horas direto sem quaisquer interrupções. Vou no embalo. É impressionante o quanto você consegue produzir assim, sem ter olhado cada apitada do seu whatsapp ou sucumbido àquela vontade de ver um vídeo inútil no youtube.

4Prepare-se para ser acionado quando menos esperar

Tal como já mencionei aqui no blog em postagens anteriores, a tradução para dublagem é sob demanda, logo a imprevisibilidade faz parte do jogo. Simplesmente não há escapatória. Desde manhã cedinho ou até mesmo um pouco antes do fim do horário comercial, prepare-se para ser acionado por algum dos seus clientes. Eles contam com você, então programe-se bem para que possa atendê-los sempre que puder.

5 – Faça um acordo com as pessoas que moram com você

Caso não more sozinho(a), faça um acordo com as pessoas que estão na sua casa, de modo que elas entendam que você está em casa, mas ao mesmo tempo não está (sim, é difícil, especialmente no começo). É necessário que seu pai, sua mãe, seu irmão, seu marido, sua mulher, enfim, quem mora com você entenda que você está trabalhando, pois interrupções frequentes atrapalham muito o andamento do dia. Pode ser complicado de início, mas a tendência é que essa consciência cresça e você consiga realizar suas obrigações sem grandes problemas.

freelancer-life

O home office do tradutor

Além das dicas acima, sinceramente, eu acredito que a melhor coisa para o tradutor é ter o seu próprio home office, ter o seu cantinho próprio de trabalho, ou como eu gosto de chamar, o seu quartel-general. Para os meus amigos e colegas que já têm um ou até mesmo para os que desejam ter o seu próprio quartel-general, deixo abaixo quatro dicas importantes que venho aplicando ao longo dos anos.

1 ) Se possível, não faça o seu quarto de home office

Antes de me mudar para o meu apartamento atual, eu trabalhava no meu quarto e já adianto que é bem complicado manter o foco quando sua tv, seu videogame e sua cama estão do seu lado. As tentações são muitas, então o ideal é que você tenha um cômodo específico e separado para trabalhar. Dessa forma, seu lado profissional consegue se desvincular melhor do pessoal, e aí você pode se dedicar às suas traduções e aos seus projetos com muito mais foco e clareza. No entanto, caso não seja possível para você ter um cantinho separado, redobre a sua atenção e cuidado para não cair em tentação.

2 ) Pense na melhor organização (e na melhor aparência) para o seu home office

Não tem nada melhor do que trabalhar em um ambiente que te dê prazer, e boa parte disso vem da aparência do seu home office. Com isso, quero dizer que é preciso organizar o seu cantinho, deixando-o com a sua cara. Uma dica legal é mudar pequenas coisas de tempos em tempos, para dar um tom diferente ou especial na ambientação. Eu, por exemplo, mudo meus mousepads semanalmente. São pequenos detalhes, mas que me ajudam de alguma forma a não deixar meu ambiente cair na mesmice, entende?

Do ponto de vista organizacional e na distribuição do que tiver no seu quartel-general, é necessário aprimorar essa organização e distribuição com o tempo. Como assim, Paulo? É deixar o seu home office mais funcional, com as coisas à mão, especialmente os materiais que você consulta com mais frequência. Pode ser o seu dicionário bilíngue favorito ou aquele dicionário de regência verbal que sempre esclarece suas dúvidas. Otimização é a palavra de ordem aqui, pois pra que levantar e pegar um bom dicionário que está na última estante, se você pode deixá-lo do seu lado?

3 ) Cuide da iluminação do seu home office

É preciso prestar atenção na iluminação do seu ambiente de trabalho. É sempre bom pensar em como a iluminação é posicionada, pois não adianta você ter uma lâmpada que incida diretamente sobre o seu PC, por exemplo. Isso vai prejudicar muito a sua visão, uma vez que o tradutor passa horas do seu dia olhando para a tela do computador.

4 ) Instrumentos imprescindíveis para o tradutor para dublagem

Puxando a sardinha um pouco mais pro meu lado, tratando-se de home office, o tradutor para dublagem precisa de quatro instrumentos imprescindíveis para poder trabalhar com qualidade. Na verdade, boa parte dos tradutores das outras áreas também necessita dos itens listados abaixo, mas não custa nada reforçar não é verdade? rs Vamos a eles:

1- Uma cadeira ergonômica

Comprar uma boa cadeira ergonômica foi uma das melhores coisas que já fiz e posso dizer com total certeza: foi um divisor de águas na minha qualidade de vida como tradutor. Eu sentia muitas dores na região dos ombros e foi só quando comprei minha atual cadeira que elas pararam de vez. Apesar de muitos ainda ignorarem isso, ter postura e ficar em uma posição adequada é crucial para aguentar várias horas traduzindo na frente do PC, sem falar que ajuda a prevenir outras complicações comuns entre os tradutores, como tendinite. Pessoalmente, a principal dica que posso dar em relação a escolha de uma cadeira ergonômica é a seguinte: ela precisa ter um apoio para lombar, pois isso faz toda a diferença no nosso dia a dia.

2- Um computador com bom disco rígido

Ninguém merece trabalhar em uma máquina lerda, não é mesmo? Para os tradutores atuantes em dublagem, não é necessário ter uma super máquina, mas é de fundamental importância que o computador (seja desktop ou notebook) tenha um bom disco rígido para armazenar os trabalhos que forem feitos ao longo do tempo. Não se esqueça de que, além dos documentos em word, há os vídeos enviados pelo cliente, e eles costumam ser muito pesados, às vezes chegando a 1GB ou mais.

3- Uma boa internet banda larga

Hoje em dia, ter uma boa conexão se tornou pré-requisito para traduzir com qualidade. A internet banda larga não só precisa ser boa para baixar os vídeos enviados pelo cliente o mais rápido possível, como para navegar de forma maximizada. Imagina se para cada site consultado no momento de uma pesquisa, ele levar um tempo enorme para abrir?

4- Um bom fone de ouvido

Principalmente para os tradutores atuantes no segmento de dublagem, um bom fone é um acessório crucial no momento da revisão do texto com o vídeo da produção audiovisual que estiver sendo traduzida. Isso sem falar que é ele que nos salva naqueles casos mais extremos, em que o tradutor precisa tirar tudo de ouvido quando não vem o script com as falas na língua-fonte.

Espero que tenha gostado desses breves conselhos e, se realmente quiser levar a vida de freelancer, vai com tudo! 😉 Um grande abraço e até o próximo post!

Paulo Noriega

Sou autor do blog Traduzindo a Dublagem e tradutor atuante nas áreas de dublagem e editorial. Amo poder compartilhar meu conhecimento a respeito do universo da dublagem e da tradução para dublagem. Seja bem-vindo a este fascinante universo!

2 Comentários

Ligia Ribeiro

15 de outubro de 2016

Olá, Paulo. Sempre me empolgo com seus posts porque eles tratam de assuntos muito importantes. Este, então, foi excelente. Estou passando por uma situação bem relacionada ao tema. Comecei a trabalhar em home office e não é fácil. Primeiro, porque há sempre interrupções das mais variadas possíveis: hora de fazer o almoço ou de sair para comer fora, hora de limpar a casa e outras tarefas domésticas, hora de levar o pai ao médico, hora de sair com a Meg para passear, e por aí vai. Segundo, porque não tenho um lugar próprio, então fico em cima da minha cama por longas horas. Resultado: dor nas pernas, dor no ombro, dor no pescoço, dor em tudo o que é lugar. Ter móveis próprios para o trabalho é essencial (vou providenciar, só não sei quando). Outro ponto que você comentou com relação às prioridades.

Esta semana foi brincadeira e a próxima será pior. Traduções, conferências, aulas da pós (vídeos que tenho que assistir)… uau! O planejamento é tudo. Ter uma agenda é importantíssimo, mas não consegui colocar nada em ordem. E tudo vai se acumulando. O engraçado que semanas atrás comentei em um post de uma colega que tinha tempo sobrando. Oh, boca! O seu artigo me fez refletir que preciso me organizar, estabelecer metas, ver quanto tempo levo em cada tradução e me planejar. Obrigada por sempre adivinha o que preciso ouvir…rs

Parabéns! Ligia

    pfcnoriega

    15 de outubro de 2016

    Ligia, que bom que gostou do tema e que ele veio em boa hora pra você haha É bem complicado mesmo, quando eu comecei lá em 2.012, não foi das melhores formas também. Eu trabalhava no meu quarto mesmo, pois não tinha um canto pra escritório. Só nos últimos dois anos é que consegui ter um home office no meu novo apartamento. A vida é feita de etapas e mesmo que demore um pouco, sempre temos que saber onde queremos chegar. Jamais perca a próxima etapa de vista e quando você se der conta, já vai estar numa situação bem melhor 😉 Fique sempre por aqui e um beijo grande =*

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