Se você buscar no Google, “Quero ser dublador”, “Como faço para ser dublador?”, “Quero dublar” ou qualquer outra coisa nessa linha, vai encontrar muitas informações. Incontáveis dubladores já disseram em inúmeras ocasiões, seja em entrevistas, em eventos ou em blogs, o caminho a ser percorrido para se tornar dublador.

No entanto, acredito que o Traduzindo a Dublagem, sendo um portal dedicado a falar sobre dublagem e tradução para dublagem, não poderia deixar de fazer um post sobre esse assunto. Por mais que o caminho em si não tenha muito mistério, a dificuldade ao longo dessa estrada é grande, pois ser dublador, acredite ou não, é o sonho de muitos brasileiros, e vejo essa vontade em diversos fóruns e grupos no facebook, por exemplo.

Diante disso e aproveitando que hoje é dia 29 de junho, dia do dublador, o post desta sexta-feira no Traduzindo a Dublagem se dedica a abordar essa questão da forma mais completa possível e deixar uma espécie de guia para todos que desejam trilhar esse caminho em busca do sonho de ser dublador.  Quero deixar meus agradecimentos a Dilma Machado, Pedro Azevedo e Mariana Mirabetti, que contribuíram com seus toques críticos e com a revisão do post de hoje. Vamos lá? 😉

Como já mencionei no blog em outros posts, a primeira questão a ser compreendida é que o dublador ou “ator em dublagem” é um profissional que tem registro profissional de ator emitido pela Superintendência Regional do Trabalho e Emprego (SRTE), a antiga Delegacia Regional do Trabalho (DRT). Até hoje, muitos não sabem, mas a dublagem é uma ramificação, uma especialização do ramo do ator profissional. Assim como temos atores que se especializam e atuam mais em certas áreas como cinema, TV, teatro musical, etc, o mesmo acontece com a dublagem, ou seja, temos atores maravilhosos que se especializaram nessa arte e vivem dela. Portanto, não se esqueça de que, não só pela lei, como em essência TODO DUBLADOR É ATOR! 😉

Para quem ainda não é ator, para conseguir o registro, é preciso se formar em um curso profissionalizante, e opções não faltam no mercado. No entanto, para facilitar, é só dar uma conferida nos cursos que constam no site do SATED (Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões). Vale lembrar que o SATED é um órgão existente e atuante em vários estados brasileiros como Rio de Janeiro, São Paulo, Alagoas, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo, Goiânia, Maranhão, Minas Gerais, Mato Grosso, Pernambuco, Piauí, Paraná, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Rondônia, Santa Catarina e Sergipe.

Outra forma de se obter o registro é com a comprovação de participação e atuação em peças de teatro (pelo menos 3 anos de trabalho atuando em peças), de modo a demonstrar a aptidão/capacitação para exercer o ofício. Além dessa, existe uma terceira forma de obtenção do registro: formar-se em Artes Cênicas.

O teatro é a base do ator.

Pois bem, depois do registro em mãos, qual seria o próximo passo? Bom, agora é realizar o maior número possível de cursos de dublagem, e posso garantir que, novamente, não faltam opções no mercado. Tanto no Rio de Janeiro quanto em São Paulo, há cursos ministrados pelos mais diversos dubladores e diretores de dublagem e que se dedicam a preparar as novas levas de dubladores do Brasil.

Nos cursos, o ator/aspirante a dublador vai, de fato, entrar em contato com a área na qual ele deseja ingressar. Ele precisa dominar a arte da dublagem, as técnicas e ser capaz de interpretar apenas com a voz. Tudo isso leva tempo, por mais jeito que ele tenha. Quanto mais experiências e produções diversas ele dublar nos cursos, assim como ter vários professores, a bagagem dele vai aumentar, para que esteja preparado e capaz de dar aquilo que o mercado exige. No site do SATED, por exemplo, além de recomendações de cursos profissionalizantes de ator, também há uma relação de cursos de dublagem para quem se interessar.

Eu, enquanto tradutor e também admirador desses profissionais, sempre que vou aos estúdios, percebo quais são os atributos que os grandes dubladores dominam e gostaria de listar alguns para você que deseja ingressar na área:

Dicção e emissão vocal

É inquestionável que todo dublador precisa ter fluência de leitura. Afinal, nenhum telespectador quer assistir à uma produção dublada e se perguntar: “o que foi que esse personagem disse?”. Ler em voz alta é um ótimo exercício e é algo que costuma ser praticado nos cursos de dublagem, por exemplo, já que há palavras na nossa língua que são mais complicadas de serem ditas e que podem até dar um bom nó na língua do dublador. Por isso, o aspirante precisa treinar muito para não fazer feio na hora das gravações. Além disso, é preciso saber emitir bem a sua voz quando estiver diante do microfone.

Voz

Grandes diretores e dubladores dizem que não existe voz bonita, nem feia: o que existe é a voz apropriada para cada personagem. Tem várias pessoas que são excelentes imitadores, por exemplo, mas isso não as torna dubladores. Na verdade, no dia a dia em estúdio, não se busca imitar vozes conhecidas, e sim encontrar uma voz adequada para os atores/personagens presentes nas mais variadas produções.

Obviamente, o fato de alguém imitar vários personagens ou celebridades mostra versatilidade vocal, algo que pode ser muito útil na dublagem de personagens de desenhos animados, por exemplo, mas é crucial que o aspirante domine sua versatilidade e sua extensão vocal para saber os seus limites e não cometer excessos e vacilos com sua voz. Falando em voz, nem preciso dizer que ela é o instrumento de trabalho do dublador, logo saber cuidar bem dela é extremamente necessário. Caso queira saber mais sobre os cuidados com a voz, fiz uma entrevista espetacular com a fonoaudióloga Luisa Catoira aqui no blog.

Interpretação

Como todo dublador é ator, não tem como não dominar a arte da interpretação. A dublagem é um segmento muito rápido e dinâmico e, ao entrar em estúdio, o dublador precisa, em poucos minutos, entender a cena, a intenção do ator/personagem e conseguir passar a mesma emoção passada no idioma original. Vale lembrar que os dubladores não se preparam como os atores de TV ou de cinema para interpretar um personagem. É tudo feito na hora, em questão de minutos. Difícil, né? E tem que gente que acha fácil…

Em questão de instantes, conseguir estar 100% na pele de um ator/personagem é uma missão extremamente complexa, ainda mais que será apenas a voz desse profissional que irá transparecer no produto dublado. Para mim, o dublador de excelência é aquele que não parece que está lendo um texto diante dele, já que, como vimos em outros posts do blog, ele tem o texto traduzido na bancada dentro do estúdio. Por mais que ele altere o texto, ainda assim, esse profissional não deve deixar transparecer a sua leitura. Com a sua articulação e emoção, ele deve falar da forma mais natural possível, e não tem nada mais gostoso do que assistir a uma dublagem com profissionais que consigam realizar esse feito com maestria. Graças a Deus, aqui no Brasil temos excelentes exemplos! 😉

Sincronismo e reflexo

Não existe dublagem sem sincronismo, especialmente o famoso sincronismo labial que já foi abordado aqui no blog em um post passado. O sincronismo é o aspecto mais técnico da dublagem e não adianta o aspirante ter muito talento e uma excelente interpretação se não conseguir sincronizar com a boca do ator/personagem que estiver dublando.

Dominar o sincronismo é vital, e é bem difícil, pode acreditar. É preciso respeitar o compasso, a respiração e a emoção do ator/personagem quando se está em estúdio, tudo precisa estar sincronizado. Acha que é fácil? Não é não! Além disso, esse profissional da voz precisa ter bons reflexos, de modo a conseguir alternar o seu olhar entre o produto a ser dublado, exibido em uma TV no estúdio, e o texto com as falas traduzidas.

É óbvio que dominar esses atributos leva muito tempo e, mesmo para quem já está inserido no mercado, o aprendizado nunca acaba, pois sempre há novos papéis que desafiam constantemente esses profissionais. São anos e anos de aperfeiçoamento, mas para fins didáticos do nosso post, o que aconteceria depois dessa etapa de prática intensa em cursos e de explorar bem os atributos que listei?

Bom, uma vez sentindo-se preparado, o aspirante a dublador precisa agora ir aos estúdios de dublagem para conhecer os diretores, se apresentar e, pouco a pouco, mostrar sua competência e talento. A expectativa é que ele comece a ser chamado para dublar papéis pequenos e para participar de vozerios. Conforme ele for se fazendo mais presente nas casas de dublagem, a tendência é que venha a ser escalado para papéis maiores e que sua reputação aumente entre os seus colegas até, finalmente, ter o seu lugar ao sol e uma carreira sólida.

Tenho conhecidos e amigos que estão galgando o seu caminho e posso dizer que, para percorrer essa estrada, é preciso haver muito empenho, muita perseverança e muito investimento também, não só financeiro como pessoal. O caminho é árduo e pode sim levar um certo tempo até as coisas começarem a engrenar, mas a julgar pelos meus amigos, mesmo com toda a ralação e dificuldade, eles não trocam esse ofício por nada nesse mundo. 😉

Deixo minha homenagem a todos os dubladores fantásticos que fazem a nossa versão brasileira acontecer em todos os estúdios desse nosso Brasil! Espero que tenha gostado do post de hoje e, se tiver alguma dúvida ou quiser deixar o seu comentário, fique à vontade. Um grande abraço e até o próximo post!

Fontes consultadas:

O Processo da Tradução para a Dublagem Brasileira: teoria e prática, de Dilma Machado

Paulo Noriega

Sou autor do blog Traduzindo a Dublagem e tradutor atuante nas áreas de dublagem e editorial. Amo poder compartilhar meu conhecimento a respeito do universo da dublagem e da tradução para dublagem. Seja bem-vindo a este fascinante universo!

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