O campo do audiovisual, e consequentemente da tradução também, é composto por quatro modalidades principais, cada uma com suas próprias particularidades: a audiodescrição (destinada ao público com deficiência visual), a tradução para legendas (legendagem), o voiceover (também conhecido como V.O) e a tradução para dublagem. Com frequência, muitos perguntam a respeito das principais diferenças entre esses quatro segmentos, e a que vou comentar no post desta sexta é a diferença entre o voiceover e a dublagem.

Vamos começar pela dublagem. Duas das principais características de qualquer dublagem são: a preocupação com o sincronismo labial (principalmente com o tempo de entrada e saída de fala e sua estimativa) e a interpretação, ou seja, há um compromisso por parte dos dubladores, profissionais da área, em passar toda a emoção presente no produto audiovisual original apenas pela voz.

Além disso, o áudio original some completamente, fazendo com que a dublagem crie o efeito sobre o telespectador de que, durante uma hora e meia de um longa ou vinte minutos de um desenho animado, todos os personagens ali presentes estão falando a língua-alvo.

Aqui no nosso país, a dublagem sempre foi presente na vida dos brasileiros e tem sido cada vez mais com o aumento da demanda por mais produções dubladas nos últimos anos. No Brasil, os mais diversos gêneros são dublados, desde longas até desenhos animados. Agora analisando do ponto de vista financeiro, a dublagem é um processo bem mais custoso do que o V.O e a legendagem, por exemplo.

Para o tradutor dessa modalidade, a dublagem apresenta um maior desafio em relação ao V.O, pois todos os elementos presentes na produção audiovisual original precisam ser sinalizados na tradução, incluindo os vozerios (burburinhos de fundo como pessoas em um restaurante), algo que não costuma ser dublado no voiceover.

Em relação a dublagem, a principal diferença entre ela e o voiceover é que, no caso dessa segunda modalidade, não ocorre a substituição do canal do áudio original pelo dublado. Ele fica mais baixo, mas ainda assim audível, e com o áudio na língua-alvo sobreposto em primeiro plano. É uma modalidade muito usada em documentários, por exemplo, ou até mesmo em entrevistas, como as que a Rede Globo costuma exibir em alguns de seus programas como Fantástico.

Muitos não sabem, mas o V.O é muito comum em países do leste europeu como a Polônia. Algumas novelas brasileiras, inclusive, são exibidas nesse formato nessa região da Europa, em vez da dublagem ou até mesmo da legendagem.

Outro grande diferencial presente nessa modalidade é a ausência de dramatização em estúdio que, no caso, é a alma e a essência de qualquer boa dublagem. No voiceover, o roteiro é simplesmente lido de forma objetiva e não há o V.O no início da fala original, pois ele começa um pouco depois e acaba antes do fim dela. O dublador também não costuma expressar reações, salvo em casos em que sejam necessárias.

Financeiramente falando, o V.O pode ser uma opção mais interessante por custar menos do que a dublagem, mas tudo depende do objetivo final que o cliente deseja alcançar com o produto. Vale lembrar que, na dublagem e para cada personagem, principalmente os com maior destaque, é necessário contratar um dublador diferente.

Do ponto de vista tradutório, o tradutor que se dedica ao voiceover tem menos preocupações, já que menos elementos precisam estar presentes no script traduzido, e não há um dos principais cuidados que é muito importante na dublagem: o sincronismo labial. O que é importante o tradutor ter em mente no momento de conceber as falas nessa modalidade é criar um texto que se encaixe no intervalo após o começo da fala do personagem e acabe um pouco antes do seu término.

E aí? Gostou de saber a diferença sobre essas modalidades que, apesar de próximas, possuem características muito distintas? Cada uma traz vantagens e desvantagens e cabe ao cliente optar pela que conseguirá atender melhor as suas necessidades. Deixe seu comentário e até o próximo post! 😉

Paulo Noriega

Sou autor do blog Traduzindo a Dublagem e tradutor atuante nas áreas de dublagem e editorial. Amo poder compartilhar meu conhecimento a respeito do universo da dublagem e da tradução para dublagem. Seja bem-vindo a este fascinante universo!

3 Comentários

Vivian

21 de setembro de 2016

Nossa Paulo! Obrigado pelos esclarecimentos! Estava muito na dúvida em qual era a diferença entre eles e você esclareceu muito bem! Obrigada!

    pfcnoriega

    23 de setembro de 2016

    Que bom, querida =) Fico feliz em ter esclarecido sua dúvida. Fica por aqui que ainda vai ter muita coisa bacana pela frente 😉

Daniela Reis

19 de março de 2018

Bacana saber de tudo isso, Paulo. Só senti falta de saber como são os profissionais de V.O. Os dubladores, eu sei que precisam ser atores, mas e os profissionais de V.O.? São locutores? Devem ter uma formação específica? Sim, tenho interesse nessa área. 🙂
Beijos e obrigada!

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