O penúltimo post do NOVEMBRO MUSICAL está no ar! Até o momento, já abordamos diversos aspectos sobre as músicas na nossa dublagem, inclusive os profissionais que atuam nessa cadeia musical, não é verdade?

No post de hoje, vamos abordar de forma mais esmiuçada as etapas seguidas nessa cadeia produtiva, pois além dos versionistas/letristas e diretores musicais, há outros aspectos que precisam ser considerados, como as condições dos projetos e as normas dos clientes, por exemplo. Ah, e o tempo, claro! Será que os versionistas têm muito tempo para realizarem suas versões/adaptações? Por que o diálogo dos diretores musicais com os dos diálogos é importante?

Segura a curiosidade, pois todo esse entrosamento entre esses profissionais e os seus pormenores você vai descobrir agora. Pronto? Vamos lá! 😉

Primeiramente, para escrever essa postagem, contei com a ajuda e as informações de Marcelo Coutinho e Félix Ferrà, dois dos principais versionistas e diretores musicais do país. Eu os entrevistei para minha monografia de especialização lato-sensu, e esse post, além da minha monografia, obviamente, não seria possível sem eles, então deixo aqui registrado o meu profundo agradecimento aos dois!

Antes de abordar as etapas percorridas nas produções musicais, é necessário salientar que existe um fator importantíssimo que difere o processo de adaptação/versão musical nas produções para cinema das que serão exibidas na televisão: o tempo. Como tradutor para dublagem, posso afirmar que os prazos de tradução para televisão tendem a ser mais curtos mesmo, logo, os prazos para realização das adaptações/versões das canções não devem ser muito maiores do que os prazos dados para a tradução dos diálogos.

Na verdade, as produções dubladas para o cinema costumam levar alguns meses na etapa de tradução e adaptação/versão musical até chegar os momentos das gravações, diferentemente das que serão veiculadas na televisão, por exemplo, em que o prazo costuma ser questão de dias.

O tempo é sempre um fator determinante para o resultado de qualquer projeto tradutório

Outro aspecto diferenciador é que, em geral, para produções cinematográficas, principal área de atuação de Coutinho e Ferrà dentro da dublagem, no que se refere a parte musical, é comum o cliente enviar as partituras das músicas. Como você pode imaginar, esse ato é de grande ajuda para o versionista no momento de transformar as músicas do original em músicas brasileiras.

Entretanto, a ausência das partituras é mais comum no âmbito televisivo. Claro que é possível se chegar a uma versão/adaptação musical sem elas, mas, para os músicos, elas podem fazer uma grande diferença na busca de um resultado de ponta e mais bem elaborado. Vamos agora para as etapas propriamente ditas?

1) Etapas iniciais

Algo muito comum no processo de dublagem das produções cinematográficas é a existência das chamadas versões preliminares. E o que isso quer dizer? Diferentemente do que costuma ocorrer com produções dubladas exibidas na TV ou até mesmo nos serviços de streaming on-line, as distribuidoras enviam para os estúdios versões inacabadas e anteriores à versão derradeira que será exibida nos cinemas. O tradutor Mário Menezes, inclusive, fala um pouco sobre isso em uma entrevista concedida aqui no blog!

Acompanhado da primeira versão da produção (preliminar 1) vem um documento importantíssimo chamado “carta criativa” (creative letter), com diversas observações e informações referentes à obra audiovisual que será dublada. Nela, além de também ter um capítulo específico para as canções, há outros aspectos contemplados, como exigências por parte dos clientes referentes à proibição de emprego de palavras chulas na adaptação/versão musical, por exemplo, regras essas que também costumam se aplicar aos diálogos. Depois, com o passar do tempo, o cliente envia a versão preliminar 2, preliminar 3 e quantas mais forem necessárias até enviar a versão definitiva.

2) Escalação das vozes

De posse desse documento e após a chegada das versões preliminares da produção a ser dublada e a contagem da quantidade de números musicais, chega o momento de se pensar nos dubladores/cantores que serão escalados e que sejam aptos a cantá-los. Inicia-se, então, a etapa dos chamados testes de voz.

Para cada personagem presente em uma canção, são realizados testes com três opções de voz, ou seja, se em um número musical há dois personagens, por exemplo, serão feitos testes com seis dubladores/cantores ao todo. Inclusive, se quiser saber mais detalhes sobre os testes de voz, já rolou um post aqui no blog em que falo tudo sobre eles!

Após os testes, as amostras de voz são enviadas para o cliente que encomendou a dublagem escolher as que mais lhe agrada. Nessa etapa crucial, é necessário haver um diálogo entre o diretor musical e o diretor de dublagem dos diálogos. E por que essa troca é tão importante? Porque pode ser que um dos dubladores dos diálogos também esteja apto a cantar as músicas, então ele pode participar dos testes de voz das canções. Vale lembrar que o ideal é sempre ir em busca de cantores com vozes próximas as dos dubladores dos diálogos, por isso essa comunicação se faz tão necessária.

Ju Cassou: a eterna Bela, do longa A Bela e a Fera

3) O processo de adaptação/versão musical

Após a aprovação das vozes pelo cliente, inicia-se para os versionistas/letristas a etapa de se trabalhar nas letras das músicas na língua-fonte para passá-las para a língua-alvo que, no nosso caso, é o português do Brasil. Reitero que esse processo é realizado com a tradução literal das canções feita pelo tradutor para dublagem, o responsável pela tradução dos diálogos, como já foi mencionado no primeiro post da nossa programação especial aqui no blog.

Um contato constante do letrista com o tradutor para dublagem também é importante, pois, apesar de haver uma separação técnica entre os diálogos e as canções, ambos compõem o todo das narrativas das produções, logo é preciso haver uma coordenação e manutenção de termos, não é verdade? E se um personagem nos diálogos tiver um mote que depois será usado em uma canção? É preciso que tudo esteja alinhado para que esse mote seja mantido.

Ah, e retomando minha observação no começo do post, o ideal é que o cliente envie as partituras das canções para o letrista, mas pode ser que isso não aconteça. Lembro que Ferrà, por exemplo, me disse em sua entrevista que é muito mais comum as partituras serem enviadas nas produções para cinema, mas que costumam chegar posteriormente, em uma versão da produção mais próxima da definitiva.

4) A direção musical em estúdio

Após a adaptação/versão das canções, ocorre a fase da direção musical nos estúdios de dublagem. Aqui uma observação se faz necessária: como os diálogos costumam ser gravados antes das canções, é preciso saber da existência daqueles motes ou deixas presentes nos diálogos e que venham a interferir nos números musicais, como já falei anteriormente (reforçar nunca é demais).

Caso o diretor musical não tenha feito a versão/adaptação das músicas também, o versionista/letrista precisa estar sempre alinhado com o diretor, para que ambos possam chegar a um bom resultado. Lembrando que o letrista acaba, no fim dos contas, se submetendo a dois crivos: ao do diretor musical e, obviamente, do cliente que encomendou a dublagem. É interessante que o versionista, se possível, esteja presente no momento das gravações para trocar ideias com o diretor e, se for o caso, aperfeiçoar a letra em português, para que tudo flua da melhor forma possível.

5) A mixagem

Por fim, após o término das gravações, ocorre a etapa de mixagem da produção e, obviamente, das canções. Em relação à essa etapa, aqui vai uma curiosidade: tem ficado cada vez mais comum, principalmente nas produções cinematográficas dubladas, a realização de todo o processo de mixagem no exterior.

Antigamente, era comum os diretores musicais acompanharem esse processo no exterior, para que não houvesse deslizes e lapsos por parte dos mixadores estrangeiros. Entretanto, nos últimos anos, a mixagem tem sido feita sem o acompanhamento dos diretores e, a cada rolo de filme mixado, o cliente o envia ao Brasil. Ao chegar aqui, o estúdio precisa conferir e aprovar até todos os rolos serem enviados e aprovados pelo estúdio brasileiro.

E aí? Gostou de entender um pouco mais sobre essa esfera musical da nossa dublagem? Não perca o último post que vai ao ar na semana que vem para fechar o NOVEMBRO MUSICAL com chave de ouro. Um grande abraço e até o próximo post! 😉

Paulo Noriega

Sou autor do blog Traduzindo a Dublagem e tradutor atuante nas áreas de dublagem e editorial. Amo poder compartilhar meu conhecimento a respeito do universo da dublagem e da tradução para dublagem. Seja bem-vindo a este fascinante universo!

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