Nesta penúltima sexta-feira de maio, o Traduzindo a Dublagem traz mais uma entrevista imperdível. De modo a reavivar a parte musical da dublagem aqui no blog, meu convidado vem diretamente da terra das músicas dubladas dos nossos desenhos japoneses, os animes, para os íntimos. Quer saber mais sobre a carreira e as histórias do meu entrevistado do mês? Então chega mais! 😉

Meu entrevistado ilustre da vez é o cantor carioca Rodrigo Rossi, voz marcante em canções dubladas de animes no Brasil, como em Cavaleiros do Zodíaco e Dragon Ball. Seu mais recente projeto é a banda Danger 3 com outros dois cantores sensacionais do universo dos animes também: Ricardo Cruz e Larissa Tassi. Não deixe de dar uma conferida na página oficial da banda e deixar a sua curtida!

Chamei o Rodrigo para esta entrevista, pois sou um grande fã do trabalho dele e, obviamente, das versões musicais dubladas dos nossos animes. Ele contou sobre sua inserção nesse universo, além de diversas curiosidades sobre os bastidores de algumas das músicas que marcaram sua carreira. Isso tudo e muito mais, tanto é que optei por dividir a entrevista em duas partes.

Deixo você agora com a primeira parte do nosso papo e fica ligado pra segunda parte que irá ao ar na sexta que vem. Um grande abraço e até o próximo post! 😉

Rodrigo Rossi

Paulo Noriega: “Rodrigo, por favor, eu gostaria que você se apresentasse para os leitores do Traduzindo a Dublagem e falasse um pouco da sua carreira musical.”

Rodrigo Rossi: “Vamos lá: meu nome é Rodrigo e eu trabalho com versões brasileiras de músicas pra dublagem há uns dez anos. Eu já estudava canto, técnica vocal, tocava em bandas também no cenário do metal e do rock, mas nada com uma grande projeção. Em 2008, eu dei uma guinada na minha vida quando cantei a abertura do anime Cavaleiros do Zodíaco: The Lost Canvas. Depois disso, passei a ser chamado sempre e ter o meu nome associado ao universo de Cavaleiros do Zodíaco aqui no Brasil e pude atuar também no anime Dragon Ball cantando a abertura de Dragon Ball Kai e em outros projetos que vieram depois.”

Paulo Noriega: “A sua carreira musical no mundo dos animes aqui no Brasil é impressionante, sem sombra de dúvida. Você já era fã de desse gênero antes de entrar pra esse universo? Como foi a sua inserção nesse mundo das canções de anime? Era algo que você já desejava alcançar?”

Rodrigo Rossi: “Várias coisas foram acontecendo ao longo do tempo, mas sim, eu sempre fui fã de anime. Sempre fui fã de Cavaleiros do Zodíaco, eu tenho até uma tatuagem, inclusive. Eu ganho presentes que tem a ver com Cavaleiros dos fãs, então tenho muito carinho por esse desenho. Em relação a minha inserção, o meu primeiro contato com esse mundo das canções de anime veio através do Edu Falaschi.

Na época em que ele tinha feito a versão de Pegasus Fantasy na redublagem de Cavaleiros, a gente tinha acabado de passar um tempo como professor e aluno em São Paulo. Eu fui aluno dele e sempre fomos muito próximos. Ele vinha participar de eventos no Rio de Janeiro, e eu ia assistir, enfim, eu tive contato com esse mundo através dele, mas não era algo que eu almejava ter pra mim, sabe? O Edu era o Edu, então não me passava pela cabeça participar efetivamente desse segmento, não era muito palpável e acessível pra mim.

O tempo passou e em 2008, eu estava reunido com uns amigos meus e um deles me disse assim: “Rodrigo, por que você não faz versões de algumas músicas e vê no que dá?” E eu guardei aquilo comigo e pensei: “Por que não, né?” Aí eu peguei a abertura de Yu-Yu-Hakusho, fiz a minha versão dela e eu tinha acabado de ver Death Note. Eu estava pilhado na época e fiz versões das músicas desse anime e também peguei a Pegasus Forever, da fase inferno da saga de Hades de Cavaleiros do Zodíaco, sendo que não sabia da existência da versão oficial do Ricardo Cruz. Enfim, gravei todas essas demos e saí batendo na porta dos estúdios cariocas de dublagem.

Bati na porta da Cinevideo, na da Delart, enfim, fui a vários estúdios do Rio de Janeiro com o CD que tinha minhas demos, mas claro que não deu em nada. O processo de entrada no mercado não é esse, mas eu não sabia, fazer o quê? Depois disso, li uma notícia que dizia que Cavaleiros do Zodíaco: The Lost Canvas havia sido exibido no Japão dublado e com a música de abertura em português. Só que a notícia era falsa e até a Dubrasil, o estúdio atual de dublagem de Cavaleiros, se pronunciou e disse que a dublagem ainda ia começar.

Sabendo disso, eu entrei em contato com a distribuidora do anime que era a FlashStar, depois com o estúdio encarregado da dublagem que, no caso, era a Dubrasil, e consegui enviar minhas demos que, graças a Deus, foram aprovadas. A primeira demo de Laços de Flor, a música de encerramento do desenho era eu cantando, mas no original era uma mulher, né? Eu chamei a Melissa pra gravar a música e produzimos toda a trilha nacional desse anime aqui.

Depois um convite emendou no outro. O Lost Canvas não era da Toei Animation, era da TMS, mas eu caí no radar da Toei mesmo assim e, no ano seguinte, já estava rolando o planejamento do lançamento da dublagem do Dragon Ball Kai e eu participei do projeto também. Uma coisa puxou a outra. Do Dragon Ball Kai veio o Cavaleiros do Zodíaco: Ômega e tem sido assim até o momento. Vários trabalhos seguidos, um puxando o outro e tem sido maravilhoso.”

Paulo Noriega: “É aquela história, né? O primeiro trabalho é sempre o mais difícil.”

Rodrigo Rossi: “Com certeza. Chegar lá é sempre o principal desafio, mas não pode desistir. Foi sensacional quando a resposta foi positiva, não só do cliente como do público também. Aí a coisa deslanchou e tem sido muito incrível participar de tantos projetos importantes e que têm feito um grande sucesso.”

Paulo Noriega: “Você deve ter muitas músicas de anime que te inspiraram, acredito. Quais foram as músicas que mais marcaram a sua infância?”

Rodrigo Rossi: “Olha, sem sombra de dúvida, tudo daquele período de 1994 a 1999 da TV Manchete. Absolutamente tudo daquela época. Inclusive o CD que foi lançado de Cavaleiros do Zodíaco foi o primeiro CD que eu comprei na vida. Shurato, Sailor Moon, Yu-Yu-Hakusho, enfim, todas as trilhas dessa época me marcaram pra caramba. Entrando nos anos 2000, a versão nacional de Pegasus Fantasy, de Cavaleiros com a voz do Edu foi um marco e foi uma honra ter gravado essa versão da música pro Cavaleiros do Zodíaco: Ômega. Sem sombra de dúvidafoi um grande presente.”

Paulo Noriega: “Rodrigo, entrando agora em um campo mais técnico, você costuma ser o responsável pela adaptação das letras que você canta nesse universo dos animes? Se sim, em quais casos isso já aconteceu?”

Rodrigo Rossi: “Eu fiz a versão de todas as músicas que eu cantei, menos uma do Dragon Ball Super, que já veio pronta. Agora todas as outras que eu cantei até agora teve participação minha na letra. Desde a abertura do Cavaleiros do Zodíaco: The Lost Canvas anos atrás, eu sempre me envolvo na parte da adaptação musical.”

Paulo Noriega: “E quais costumam ser os materiais com os quais você lida no processo de adaptação/versão musical?”

Rodrigo Rossi: “Isso varia muito dependendo do cliente e do projeto. Houve vezes que eu ia atrás do material, via se já tinha disponível na internet; em outras o cliente me manda. Eu me lembro que no Dragon Ball Kai rolou uma curiosidade. Eu recebi três músicas pra adaptar e gravar na primeira temporada. Fiz as demos das três músicas, mas uma delas nunca foi pro ar e nunca soube o motivo. As demos que eu faço costumam ser com materiais achados na internet mesmo, mas o material oficial do cliente chegava depois.

Obviamente, com o passar do tempo, a minha logística e a do próprio mercado mudou, então eu consigo otimizar muito o processo hoje em dia. O que mata, muitas vezes, são os prazos, né? Muitas vezes a dublagem dos episódios já está pronta e o estúdio ainda precisa realizar a parte musical, então, da minha parte, o que der pra ser feito de forma antecipada é sempre melhor.

Na época do Lost Canvas e do Dragon Ball Kai, quem me ajudava na questão da tradução bruta das letras originais em japonês pra eu entender o significado era uma professora de japonês da UERJ chamada Elisa. Ela me enviava um material super completo com a tradução das letras, os significados, tudo que você possa imaginar.

Uma curiosidade interessante foi quando ela me enviou o material da tradução de Laços de Flor, o encerramento de Lost Canvas. No original, a música é triste pra caramba, é super pra baixo, é uma letra depressiva mesmo. Eu vi que se a gente transportasse essa mensagem como estava no original não ia funcionar pra gente, não condizia com o nosso universo brasileiro. Esse tipo de mensagem mais melancólica é comum no Japão, mas não comunica da mesma forma pra gente. Dentro das possibilidades, eu tentei passar o máximo da informação do original, mas sem causar impacto e estranheza pro nosso público e acho que deu muito certo.

Quando eu conheci o Ricardo Cruz um tempo depois, outro cantor de anime que virou um amigão meu, ele passou a me ajudar nesse processo porque ele é fluente em japonês. Ele faz a tradução bruta da letra em japonês pra mim, e eu adapto depois. No entanto, cada projeto é um projeto, e as condições de entrega e de envio de material acabam mudando mesmo.”

Paulo Noriega: “E as músicas que você adaptou, geralmente, são pensadas com você em mente pra cantá-las? Ou você também já adaptou para os seus colegas cantarem?”

Rodrigo Rossi: “Sim, eu já adaptei pros meus colegas. O exemplo clássico disso foi Laços de Flor que eu já comentei e teve também Nova Geração, a segunda abertura de Cavaleiros do Zodíaco: Ômega, que tem eu, a Larissa Tassi, o Ricardo Cruz e o Edu Falaschi. Eu fui pensando em qual parte ficaria melhor pra cada um, então foi um processo foi muito legal. Pra essa música, teve um pessoal do youtube de uma banda chamada J~Kai que tinha entrado em contato comigo e que queria contribuir de alguma forma, mas eu já tinha entregado pro estúdio.

A gente tem que lembrar que, hoje em dia, antes das versões oficiais das músicas saírem, principalmente as de anime, já tem várias adaptações feitas por fãs na internet. Aí aconteceu esse caso com essa banda, mas não dava mais tempo de eles ajudarem. O que foi que eu fiz? Quando chegaram as outras músicas do Ômega, entrei em contato com a banda e fizemos uma parceria pra poder bolar a letra oficial: além de mim, do vocalista da J~Kai, teve também o Ricardo Cruz que participou do processo e assim surgiram as versões de Evolução Ômega e Cordas de Luz.

Cada caso é um caso e, de vez em quando, eu proponho coisas pros clientes que fogem um pouco da curva, mas que eu acredito muito que vão funcionar pro nosso público, então obviamente tudo precisa ser acordado antes pra tudo fluir bem depois. A coroação de todas essas empreitadas foi quando a gente criou o Cavaleiros do Zodíaco In Concert, que durou de 2013 a 2017. A gente passou por várias cidades, a gente rodou o Brasil, foi o máximo. Com certeza, foi a turnê mais divertida que eu fiz até hoje.”

Não perca a segunda parte da entrevista na semana que vem!

Paulo Noriega

Sou autor do blog Traduzindo a Dublagem e tradutor atuante nas áreas de dublagem e editorial. Amo poder compartilhar meu conhecimento a respeito do universo da dublagem e da tradução para dublagem. Seja bem-vindo a este fascinante universo!

4 Comentários

Mônica

19 de maio de 2018

Adorei a entrevista, sou fã do trabalho do Rodrigo. ?

    Paulo Noriega

    20 de maio de 2018

    Ele é incrível mesmo, Mônica! =)

Junior Maxx

1 de novembro de 2018

Entrevista sensacional com o Rod, sou fã dele à muito tempo!!!

    Paulo Noriega

    9 de novembro de 2018

    Que bom que gostou, Junior. Fico feliz. =)) Compartilha com seus amigos que também gostam do Rodrigo! Obrigado pela visita.

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